Se você acha que a prefeitura já tem problemas demais, tudo pode piorar nos próximos meses. É que há informações confirmadas de que as empresas de ônibus de Marabá estão movendo três ações com pedido de indenização para o município, por causa da bagunça que se transformou o transporte público.
Uma das ações seria por conta da inércia da prefeitura em relação à atuação clandestina dos taxis lotação.
Levantamento feito pelas empresas de ônibus que atuam em Marabá (Viação Cidade Nova e Transbrasiliana) revela que os taxis lotação fazem em média 500 mil corridas por mês.
Já as duas empresas de ônibus com 50 veículos (25 cada) transportam 700 mil pessoas em igual período.
As duas empresas juntas têm 600 funcionários e cada uma precisa desembolsar R$ 450 mil para cobrir sua folha de pagamento.
A Transbrasiliana, como atua também no transporte rodoviário em quase todo o País, ainda consegue honrar seus compromissos. Mas a Viação Cidade Nova está à beira da falência.
Para não ficar no prejuízo diante de uma situação caótica, as empresas - que temem fechar as portas a qualquer momento - querem cobrar do município, a quem culpam pela situação.
No caso da Transbrasiliana, existe informação de que a empresa tem ônibus novos que deveriam ter sido inseridos na frota de Marabá, mas continuam no pátio porque a empresa ainda aguarda cumprimento de promessas feitas pela atual administração municipal, de resolver o problema. "As empresas estão em compasso de espera", revela a fonte deste repórter.
Mas, pelo que se vê, a situação caminha para um rumo bem diferente do que aquele que as empresas de ônibus queriam.
É que a prefeitura está criando um lei para regularizar o taxi lotação, o que as empresas consideram inconstitucional e inclusive também entraram com processo contra a aprovação desta lei.
A verdade é que, se o transporte está a bagunça que está, a culpa é das administrações anteriores (e também desta atual) e das próprias empresas que sempre negaram ao usuário um serviço de qualidade.
Ao longo dos anos, as administrações não cobraram um serviço sério das empresas (e nem elas se preocuparam com isso), deixando o usuário do transporte insatisfeito. Eram horas numa parada de ônibus para pegar um coletivo lotado.
Isso abriu espaço para o chamado transporte alternativo (primeiro o mototaxi e agora o taxi lotação).
Mas, por outro lado, se as empresas de ônibus fecharem as portas - como parece que vai ser o caso, outro problema de ordem social vai ser ainda mais agravado. Afinal de contas, quem vai transportar o idoso, o portador de deficiência física e o estudante?
Sem contar com o exército de desempregados que vai se formar.
Além disso, o taxi lotação não recolhe impostos aos cofres públicos.
Ou seja: estamos diante de uma encruzilhada.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Espinho na carne
A desgraça que se abateu no Estado do Rio de Janeiro não é tema restrito ao Sudeste do Brasil. Nós, aqui de Marabá, precisamos refletir sobre aquilo: quase 150 mortos (até agora).
Coisas como esta não acontecem por acaso. O processo de ocupação dos morros cariocas foi marcado por irregularidades devidamente aceitas pelos governantes, que nunca tiveram uma política habitacional.
Nunca se preocuparam com as famílias jogadas em locais inadequados para a habitação.
Desse modo, os "donos de coisa nenhuma", os "ninguéns" foram ocupando irregularmente as montanhas, construindo casas e erguendo lajes para poderem morar e criar seus filhos.
Enquanto isso, toda aquela gente branca, rica e feliz da "Cidade Maravilhosa" foi ocupando os melhores lugares.
Tal qual aqui, os políticos de lá pouco se incomodaram - e a história prova isso - com a situação de miséria e violência criada nos morros, nos desassistidos morros, onde se ergueu um poder paralelo alicerçado em terrenos irregulares e violentos, onde mora muita gente de bem.
Toda a violência que predomina nas favelas e a falta de segurança nas moradias é um efeito colateral criado por um sistema excludente que mantém os pobretões à margem das maravilhas do mundo moderno de compras, do pão de açúcar, do corcovado...
E assim foi construída uma relação cruelmente desigual, onde o único problema parecia ser quando os filhinhos de papai eram ameaçados pelos filhinhos sem papai; quando o povo do asfalto se encontra com uma bala perdida à procura de um destino que dê lógica à sua existência.
Acontece que, enquanto os homens ficam matando para acumular riquezas (uns com a metralhadora e outros com o poder da caneta), a natureza segue seu curso normal, mandando sol e chuva todos os dias no mundo todo.
Para mim, a maior catástrofe não foi causada pela chuva, mas pelas pessoas que reduziram seu semelhante a uma condição de sub-raça, pronta para ser dada em sacrifício à mãe natureza, que de tempos em tempos gosta de aparecer e dar uma demonstração de poder, deixando bem claro quem é mesmo o dono de quem.
Felizmente Marabá não está fincada em áreas tão irregulares quanto o Rio de Janeiro, mas o processo habitacional que se monta dia após dia nesta cidade é tão segregador quanto o do Rio e bastam apenas algumas horas de chuva para que várias ruas fiquem interditadas e algumas casas enfrentem o dissabor da lama deitada na sala de visitas.
Felizmente também a enxurrada ainda não anda matando gente em Marabá. O povo pobre morre da doença causada pela sujeira que se mistura à água da chuva e vai fazer morada no insalubre quarto da criança que dormiu com fome e acordou sem nada.
Morre o povo de desesperança, de desemprego, de falta de cuidado, de miséria; morre o povo à míngua diante de tantas riquezas, assim como no Rio, "ao som do mar e à luz do céu profundo".
Alonguei-me, mas era preciso. Existem coisas que nos perfuram a alma como um espinho na carne.
Coisas como esta não acontecem por acaso. O processo de ocupação dos morros cariocas foi marcado por irregularidades devidamente aceitas pelos governantes, que nunca tiveram uma política habitacional.
Nunca se preocuparam com as famílias jogadas em locais inadequados para a habitação.
Desse modo, os "donos de coisa nenhuma", os "ninguéns" foram ocupando irregularmente as montanhas, construindo casas e erguendo lajes para poderem morar e criar seus filhos.
Enquanto isso, toda aquela gente branca, rica e feliz da "Cidade Maravilhosa" foi ocupando os melhores lugares.
Tal qual aqui, os políticos de lá pouco se incomodaram - e a história prova isso - com a situação de miséria e violência criada nos morros, nos desassistidos morros, onde se ergueu um poder paralelo alicerçado em terrenos irregulares e violentos, onde mora muita gente de bem.
Toda a violência que predomina nas favelas e a falta de segurança nas moradias é um efeito colateral criado por um sistema excludente que mantém os pobretões à margem das maravilhas do mundo moderno de compras, do pão de açúcar, do corcovado...
E assim foi construída uma relação cruelmente desigual, onde o único problema parecia ser quando os filhinhos de papai eram ameaçados pelos filhinhos sem papai; quando o povo do asfalto se encontra com uma bala perdida à procura de um destino que dê lógica à sua existência.
Acontece que, enquanto os homens ficam matando para acumular riquezas (uns com a metralhadora e outros com o poder da caneta), a natureza segue seu curso normal, mandando sol e chuva todos os dias no mundo todo.
Para mim, a maior catástrofe não foi causada pela chuva, mas pelas pessoas que reduziram seu semelhante a uma condição de sub-raça, pronta para ser dada em sacrifício à mãe natureza, que de tempos em tempos gosta de aparecer e dar uma demonstração de poder, deixando bem claro quem é mesmo o dono de quem.
Felizmente Marabá não está fincada em áreas tão irregulares quanto o Rio de Janeiro, mas o processo habitacional que se monta dia após dia nesta cidade é tão segregador quanto o do Rio e bastam apenas algumas horas de chuva para que várias ruas fiquem interditadas e algumas casas enfrentem o dissabor da lama deitada na sala de visitas.
Felizmente também a enxurrada ainda não anda matando gente em Marabá. O povo pobre morre da doença causada pela sujeira que se mistura à água da chuva e vai fazer morada no insalubre quarto da criança que dormiu com fome e acordou sem nada.
Morre o povo de desesperança, de desemprego, de falta de cuidado, de miséria; morre o povo à míngua diante de tantas riquezas, assim como no Rio, "ao som do mar e à luz do céu profundo".
Alonguei-me, mas era preciso. Existem coisas que nos perfuram a alma como um espinho na carne.
Assinar:
Postagens (Atom)