Sem-terra, que já ocupavam a sede do Incra e o terreno da Polícia Federal, agora estampam sua flâmula de sangue e de luta na porta da prefeitura, de onde ninguém entra e nem sai sem a sua permissão;
Perto dali, escolas fecham seus portões aos estudantes e lhes oferecem cartazes dizendo que seus professores estão em greve porque seus salários só lhe permitem comer e ninguém vive apenas para isso;
Do outro lado da cidade, um grupo de sem-teto marcha na direção de Câmara Municipal, carregando seus cartazes e seus clamores para o coração do Poder Legislativo;
No interior de uma vila rural, camponeses debruçaram toras de madeira na estrada que dá acesso a uma mineradora;
E não muito longe daqui, noutra cidade como a nossa, moradores fazem um cordão de isolamento na rodovia que corta e sangra a cidade sem estrutura.
Sim, definitivamente, “as cidades estão em ebulição”. Foi o que a companheira me disse logo cedo e tive que concordar com ela, morrendo de inveja (queria que essa frase fosse minha).
Isso é ruim e é bom, ao mesmo tempo.
É ruim porque tantos protestos querem dizer que as minorias estão com seus direitos violados, do contrário não protestariam tanto.
É bom porque – até onde eu me lembro – nunca na história da nossa região essas minorias tiveram tanto direito ao protesto e tanta consciência da necessidade de protestar para ver seus direitos atendidos
Tempos atrás, manifestos assim acabariam invariavelmente em mortes ou prisões.
Hoje, não.
Enfim, parece que vejo um lampejo de democracia.
Por um momento, eu chego até a acreditar que “o sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da pátria nesse instante.”
terça-feira, 25 de maio de 2010
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